tag:blogger.com,1999:blog-44290474098280179232024-03-14T05:20:44.033-03:00RICARDO MELLORICARDO MELLOhttp://www.blogger.com/profile/13651219120203220663noreply@blogger.comBlogger2125tag:blogger.com,1999:blog-4429047409828017923.post-47446974791024233562016-02-08T03:01:00.001-02:002016-02-08T03:06:01.437-02:00<div style="text-align: center;">
<b>A EPIDEMIA</b></div>
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<a href="https://2.bp.blogspot.com/-zku2MH3jcLg/VrghFYALj8I/AAAAAAAABF4/17Yp2FcBb4w/s1600/pressa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-zku2MH3jcLg/VrghFYALj8I/AAAAAAAABF4/17Yp2FcBb4w/s1600/pressa.jpg" /></a></div>
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<br /></div>
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Não tenho tempo pra nada, a não ser pra correr contra o
tempo. Tudo é pra anteontem. Ontem já é tarde demais. No Rio de Janeiro
ultrapasso pela direita porque não há tempo de esperar o motorista da frente
abrir caminho. E se ele dá seta para mudar de faixa, acelero. Não posso ficar para trás. Mais um carro na minha frente vai
significar, talvez, 10 segundos a mais no trânsito. Uma eternidade!<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Em São Paulo, se a velocidade na Marginal, é 40 km/h, 50km/h, 90 km/h,
não importa. Vou reclamar. Deveria ser, no mínimo, 120 km/h. E ainda tem radar,
essas armadilhas pra me pegar descumprindo a lei. Indústria de multas, de
arrecadação. Não interessa se eu tenho poder de escolha. Sou o único que pode escolher fornecer ou não a
matéria-prima para essa indústria, mas e daí?. Esses equipamentos tem o único objetivo de
barrar a minha intocável velocidade.<br />
<br />
Eu subo a escada rolante andando. Ainda bem que
existe até sinalização, indicando aos mais lentos que liberem o lado
esquerdo. Se alguém parar na minha
frente, peço licença. Se toquem, que eu preciso subir. Já tive a curiosidade de
cronometrar. Na estação Barra Funda do Metrô, deixei a escada me levar. No dia
seguinte, ajudei a escada e subi andando, junto com ela. Economizei incríveis
12 segundos! Vou ao shopping a passeio. Mas isso não faz diferença. Se tem escada rolante ou não, subo caminhando sempre! É incrível poder chegar à loja 8 segundos mais cedo.</div>
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<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Na rua o ritmo é de operário na hora do almoço. Andar na 25
de Março é uma tortura. Com tanta gente, não dá pra apertar o passo. Caminho na
calçada navegando na internet, conversando por mensagem de texto, vendo o último
email. Pareço um zumbi, mas o que importa? Não posso esperar. </div>
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<br /></div>
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Não há tempo.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Sou doente. Mas não sou único. Vivo no meio de uma epidemia
de pressa. Nada pode esperar. Não há tempo pra contemplar o sol se pôr no fim
de tarde. Nem pra ouvir o passarinho que canta na minha árvore. Tenho que
correr. Tenho que fazer duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo. No fim do
dia, somando toda a minha correria, talvez tenha ganhado cinco, seis minutos
para não fazer nada. Ou posso usá-los para ficar um pouco mais na internet. É o
meu lucro por um dia inteiro de afobação e impaciência. <o:p></o:p></div>
<br />
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Sou doente, sim. Sou mais um número dessa estatística. A
epidemia da pressa me contagiou. Mas não me olhe com essa cara de estranheza.
Não finja que não sabe do que eu estou falando. Tamojunto!</div>
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<br /></div>
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Vai dizer que não? <o:p></o:p></div>
RICARDO MELLOhttp://www.blogger.com/profile/13651219120203220663noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4429047409828017923.post-18569269032714287882015-02-27T14:15:00.001-03:002016-02-08T02:35:16.906-02:00<div class="MsoNormal">
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<b>O DIA EM QUE ELE ENCONTROU-SE COM PRÓPRIO FUTURO</b></div>
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<br />
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<a href="https://1.bp.blogspot.com/-k1NRaU-0Aig/Vrga7o8Yb4I/AAAAAAAABFk/FoE5fbK3_n4/s1600/PASSAGEM.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://1.bp.blogspot.com/-k1NRaU-0Aig/Vrga7o8Yb4I/AAAAAAAABFk/FoE5fbK3_n4/s400/PASSAGEM.png" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<br /></div>
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O garoto pobre ocupava a terceira carteira do lado esquerdo
da classe, encostada à parede. A turma de sexta série discutia o futuro. O que
cada um ali queria da vida quando virasse adulto. A professora caminhava entre
os alunos e ia perguntando, ouvindo as respostas e fazendo suas observações.<br />
<br />
- Qual a profissão você pretende seguir?<br />
<br />
- Eu quero ser jornalista! - cravou uma das estudantes. Morena jambo, estilo índia, bonita. A aluna mais extrovertida da classe estava convicta.<br />
<br />
Aquela frase ecoou do outro lado da sala, nos ouvidos do tímido menino de
doze anos, como se fosse uma sentença sem apelação.<br />
<br />
A palavra "jornalista" ganhou uma dimensão que nunca antes tinha conquistado na
imaginação dele. Em segundos, começou um filme mental. A rotina de um trabalho
cansativo, mas cheia de dinamismo, glamour e dinheiro. O futuro lhe mostraria
que as coisas são um pouco diferentes daquele sonho juvenil. Mas
igualmente mágicas.<br />
<br />
Apenas sete anos depois, ao lado de um amigo, ele escrevia os primeiros textos
pra um jornalzinho estudantil. Foi preciso escrever, fotografar com uma velha
Zenith russa, e ainda correr atrás da publicidade para pagar diagramação e
gráfica. Mas o primeiro número saiu. A foto da capa era a de um bebê peladinho.
A manchete: "Nasceu!"<br />
<br />
Nascia ali uma nova pessoa, uma nova carreira. Começava uma vida totalmente
diferente da que antes maltratava os sonhos do menino. O amigo não seguiu
carreira. Tornou-se escritor e professor.<br />
<br />
Da mesma forma, poucos foram os alunos daquela turma que conseguiram botar em
prática o desejo manifestado diante de todos. Dos 35, 40 alunos, cerca de
metade respondeu à pergunta da professora. A aula, de 50 minutos, não foi
suficiente para que todos falassem O menino desta história foi um dos que não teve tempo de responder à pergunta e ficou frustrado. Queria dividir com os colegas a descoberta que tinha acabado
de fazer, mesmo que pensassem que ele apenas copiava a ideia de outra colega.<br />
<br />
Passados vinte e dois anos, aquela moreninha é uma bem sucedida dentista.
Jornalismo, pra ela, está na internet, ou quando senta com a família em frente a TV.<br />
<br />
De vez em quando, vê uma reportagem de Ricardo Mello, mas nem sabe que trata-se de um antigo coleguinha que
passou pela vida escolar dela sem deixar muitas marcas. Não se lembra daquela
aula tão reveladora, e nem imagina que o rapaz que aparece na tv só está lá porque ele conseguiu realizar um sonho que também já fora dela.</div>
RICARDO MELLOhttp://www.blogger.com/profile/13651219120203220663noreply@blogger.com0