A EPIDEMIA
Não tenho tempo pra nada, a não ser pra correr contra o
tempo. Tudo é pra anteontem. Ontem já é tarde demais. No Rio de Janeiro
ultrapasso pela direita porque não há tempo de esperar o motorista da frente
abrir caminho. E se ele dá seta para mudar de faixa, acelero. Não posso ficar para trás. Mais um carro na minha frente vai
significar, talvez, 10 segundos a mais no trânsito. Uma eternidade!
Em São Paulo, se a velocidade na Marginal, é 40 km/h, 50km/h, 90 km/h,
não importa. Vou reclamar. Deveria ser, no mínimo, 120 km/h. E ainda tem radar,
essas armadilhas pra me pegar descumprindo a lei. Indústria de multas, de
arrecadação. Não interessa se eu tenho poder de escolha. Sou o único que pode escolher fornecer ou não a
matéria-prima para essa indústria, mas e daí?. Esses equipamentos tem o único objetivo de
barrar a minha intocável velocidade.
Eu subo a escada rolante andando. Ainda bem que existe até sinalização, indicando aos mais lentos que liberem o lado esquerdo. Se alguém parar na minha frente, peço licença. Se toquem, que eu preciso subir. Já tive a curiosidade de cronometrar. Na estação Barra Funda do Metrô, deixei a escada me levar. No dia seguinte, ajudei a escada e subi andando, junto com ela. Economizei incríveis 12 segundos! Vou ao shopping a passeio. Mas isso não faz diferença. Se tem escada rolante ou não, subo caminhando sempre! É incrível poder chegar à loja 8 segundos mais cedo.
Eu subo a escada rolante andando. Ainda bem que existe até sinalização, indicando aos mais lentos que liberem o lado esquerdo. Se alguém parar na minha frente, peço licença. Se toquem, que eu preciso subir. Já tive a curiosidade de cronometrar. Na estação Barra Funda do Metrô, deixei a escada me levar. No dia seguinte, ajudei a escada e subi andando, junto com ela. Economizei incríveis 12 segundos! Vou ao shopping a passeio. Mas isso não faz diferença. Se tem escada rolante ou não, subo caminhando sempre! É incrível poder chegar à loja 8 segundos mais cedo.
Na rua o ritmo é de operário na hora do almoço. Andar na 25
de Março é uma tortura. Com tanta gente, não dá pra apertar o passo. Caminho na
calçada navegando na internet, conversando por mensagem de texto, vendo o último
email. Pareço um zumbi, mas o que importa? Não posso esperar.
Não há tempo.
Sou doente. Mas não sou único. Vivo no meio de uma epidemia
de pressa. Nada pode esperar. Não há tempo pra contemplar o sol se pôr no fim
de tarde. Nem pra ouvir o passarinho que canta na minha árvore. Tenho que
correr. Tenho que fazer duas, três, quatro coisas ao mesmo tempo. No fim do
dia, somando toda a minha correria, talvez tenha ganhado cinco, seis minutos
para não fazer nada. Ou posso usá-los para ficar um pouco mais na internet. É o
meu lucro por um dia inteiro de afobação e impaciência.
Sou doente, sim. Sou mais um número dessa estatística. A
epidemia da pressa me contagiou. Mas não me olhe com essa cara de estranheza.
Não finja que não sabe do que eu estou falando. Tamojunto!
Vai dizer que não?